1.Todas as mulheres sabem que no fundo de si mesma moram muitas outras figuras femininas. Algumas poderosas, outras frágeis; algumas velhas, outras bem jovens. Todas adoram falar e falar, como se o mundo antes de existir,precisasse ser dito.
2.Todas as mulheres conhecem a dor e nenhuma é estranha ao sofrimento. Mas, no final, quando a noite se retira solene, carregando seu véu, a maioria de nós espreguiça e recebe o dia com generosidade renovada e a mesma velha esperança sorrindo nos lábios.
3.Todas as mulheres um dia (ou muitos) se sentiram alheias a si mesmas. E perderam-se num mar de irritação, mau-humor e impaciência. Exaustas mergulharam num Lexotan, em vários copos de vinho, num maço inteiro de cigarros, numa banheira escaldante ou no mais puro desespero. Algumas sucumbiram, só algumas. Como resultado, todas nós carregamos no coração o silêncio desta perda. E reconhecemos com reverência o poder destes abismos.
4.Todas as mulheres, mesmo as muito jovens, sabem que ser mulher é um desafio. Sentem isso no próprio corpo, ou no mínimo desconfiam que irão passar um bocado de tempo tentando provar coisas para o mundo. Nascer mulher, em boa parte do planeta, ainda é afirmar-se acima do destino biológico e apesar das circunstâncias.
5.Todas as mulheres pensam que sabem amar. Mas o amor insiste em rir de nós. E desafia nossas desajeitadas tentativas de dominá-lo ou compreendê-lo. O amor parece um gato que só vem para o nosso colo quando já cansamos de chamar. Aí,a gente ri e ele ronrona sua absurda liberdade enquanto recebe nosso afago no pescoço.
6.Nenhuma mulher deseja a felicidade assim de um jeito genérico. É o encantamento que sentimos quando cumprimos nosso destino de mulher, (que buscamos acima de tudo). E isto inclui muitas coisas bobas, como vestidos novos e cores e mais cores de sapatos, e tantas outras nada bobas, "ele". De preferência, um "ele apaixonado", mas não muito, bonito, mas não muito, inteligente, mas não muito, apaixonado por crianças, mas não tanto quanto por nós, e, o toque final: que surja sempre assim com aquele jeito heróico e descabelado de quem acabou de matar um dragão, por "Nós".
7.Todas as mulheres têm medo. Medo do primeiro beijo, do primeiro encontro, do primeiro emprego, medo de casar, medo de não casar, medo do parto, medo da traição, medo de não conseguir, medo de envelhecer, medo de dizer sim. A cada instante, nossos medos podem nos fazer trancar os dentes, afinar o olhar e ousar o salto. (Ou podem nos empurrar encolhidas para dentro de uma caixa de sapatos. Onde ficamos grudadas, olhando o mundo por um buraquinho...)
8.Todas nós temos um sonho. Nem sempre é um daqueles sonhos nobres, como o de Martin Luther King,que ansiava por um mundo no qual os seres humanos fossem iguais em suas múltiplas e coloridas versões.Não,nossos sonhos muitas vezes são:pequenos; como um jardim ou um carinho; engraçados:usar toda a poupança para ficar com um bumbum igual ao da beldade de plantão na TV; românticos: um cruzeiro pela Grécia, com um grego lindo e de peito largo, absolutamente apaixonado por nós; impossíveis: passar pela vida sem sofrer por amor.
9.Todas nós temos uma sombra. Negra e densa. Ora ela aparece como um sabotador, que mina nossas energias e desmerece nossos esforços. Ora como uma mulher dura e fria, de palavras ásperas e julgamento impiedoso. Não importa como ela venha, você vai reconhecê-la sempre: a sombra tem o seu rosto. Também é fácil reconhecer aquelas entre nós que não ousaram olhar de frente para este rosto transformado. Elas parecem árvores ressequidas e seus ramos balançam sem alegria. Quem se alimenta dos frutos murchos destas árvores experimenta seu sabor ressentido e intolerante. Eventualmente, as tempestades partem ao meio troncos tão secos. Ninguém sente muita falta delas.
10.Todas nós sentimos vez por outra uma vontade de parar de bater as asas na vidraça e aquietar a alma. Esta é a hora de construir um templo para acolher nosso ser feminino. Um lugar onde a gente possa ficar só com nossos mistérios, nossas descobertas e pescar no fundo da alma o encantamento que vai nos tornar, de novo, muito orgulhosas de nós mesma...
(Desconheço a Autoria)