quarta-feira, 29 de outubro de 2008

GALHO DE ESPINHOS....


Um dia, alguém colocou um galho cheio
de espinhos no meu caminho...
Sofri...
Machuquei-me...
Perdi a auto-estima...
Impossível evitar as feridas...


Plantei esse galho no meu jardim interior.
O galho murchou e à sua volta,
muito capim, muita erva daninha...



Mas os espinhos, vivos permaneceram...
Continuaram ferindo-me a alma...
Muitos anos depois, o galho brotou
mostrando que não morrera...
E vieram folhas...
E quantas rosas vieram alegrar o meu jardim!



Fiz questão de escolher o mais belo dos botões
para retribuir o presente do galho cheio de espinhos...
Enviei junto o melhor dos meus sorrisos...



Meu jardim interior não deixará de florir...
O sofrimento maltrata,mas, hoje,cultivo flores...
Tento esquecer as cicatrizes que os espinhos deixaram...
Quando olhá-las, lembrarei...
Mas já não doem mais...
Encaro a dor como um trampolim para a felicidade.



SER FELIZ EXIGE LUTA ...


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Razão e Paixão


Razão e Paixão
**
Vossa alma é,muitas vezes,
um campo de batalha,no qual
vossa razão e vosso julgamento
entram em guerra contra vossa paixão
e vosso desejo.


Se eu pudesse,seria o pacificador
da vossa alma.Se eu pudesse,
transformaria a discórdia
e a rivalidade dos vossos elementos
em unidade e melodia.


Mas como poderia,a não ser que vós
mesmos também sejais o pacificador,
ou,os amantes de todos os vossos
elementos?


Vossa razão e vossa paixão
são o leme e as velas da vossa
alma navegadora.


Se as vossas velas ou vosso leme
estiverem quebrados,podereis apenas
ser sacudidos e sem rumo,ou até mesmo
ficar presos em uma calmaria
no mar interior.


Pois a razão, governando sozinha,
é uma força que confina;e a paixão,
sem cuidado,é uma chama que queima
até destruir.


Portanto,deixai que vossa alma
exalte vossa razão até a altura
da paixão,para que ela possa cantar;


E que a vossa paixão seja dirigida
pela razão,para que vossa paixão
possa viver a sua própria
ressurreição diária,e como a fênix,
ressurja de suas próprias cinzas.


Gostaria que considerásseis vosso
julgamento e vosso desejo como dois
hóspedes amados em vossa casa.


Certamente, não venerais mais
um hóspede que outro,pois aquele
que respeita um mais que o outro
perde o amor e a fé de ambos.


Entre as colinas,quando vós sentardes
à sombra fresca dos brancos álamos,
compartilhando da paz e da serenidade
dos campos distantes- deixai
que vosso coração diga em silêncio:
"Deus descansa na razão".


E quando vier a tempestade,
e o poderoso vento sacudir a floresta,
e o raio e o trovão proclamarem
a magestade do céu - deixai
que vosso coração diga em adoração:
"Deus move-se com paixão".

É como sois um sopro da esfera de Deus,
e uma folha na floresta de Deus,
também deveis descansar na razão
e mover-vos na paixão.

(Khalil Gibran -O Profeta)


Beijinhos no coração!

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"Se Eu Fosse Eu"


Quando eu não sei onde guardei um papel
importante e a procura revela-se inútil,
pergunto-me:se eu fosse eu e tivesse
um papel importante para guardar,
que lugar escolheria?
Às vezes dá certo.
Mas muitas vezes fico tão pressionada
pela frase "se eu fosse eu",
que a procura do papel se torna secundária,
e começo a pensar, diria melhor SENTIR.


E não me sinto bem.Experimente:se você fosse
você,como seria e o que faria?
Logo de início se sente um constrangimento:
a mentira em que nos acomodamos
acabou de ser movida do lugar onde se acomodara.
No entanto já li biografias de pessoas que de
repente passavam a ser elas mesmas
e mudavam inteiramente de vida.


Acho que se eu fosse realmente eu,
os amigos não me cumprimentariam na rua,
porque até minha fisionomia teria mudado.
Como? Não sei.


Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu,
não posso contar. Acho por exemplo,que por um
certo motivo eu terminaria presa na cadeia.
E se eu fosse eu daria tudo que é meu
e confiaria o futuro ao futuro.


"Se eu fosse eu" parece representar o nosso
maior perigo de viver,
parece a entrada nova no desconhecido.


No entanto tenho a intuição de que,
passadas as primeiras chamadas loucuras
da festa,teriamos enfim a experiência do mundo.
Bem sei, experimentaríamos emfim em pleno
a dor do mundo.
E a nossa dor aquela que aprendemos a não sentir.
Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase
de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar.
Não,acho que já estou de algum modo adivinhando,
porque me senti sorrindo e também senti uma espécie
de pudor que se tem diante do que é grande demais...

(Clarice Lispector)