quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


(Carlos Drummond de Andrade)


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Abismos de Mim...


Vou num vôo silencioso
percorrendo caminhos traçados
no escuro
vôo sem medo, com segurança
mergulhando nos precipícios
de minha alma, num vôo raso
rebuscando fragmentos do passado
trazendo a baila pedaços de mim.
Acendendo labaredas mágicas
nos topos bem altos
nos traços e formas sem simetria
busco a geografia de minha alma
voando pelos desfiladeiros negros
enfrento os perigos
tenho a calma dentro do meu eu
sou bruxa dos meus medos
espanto a solidão, afugento os perigos
que regem meu destino
Vôo por esse abismo sem fim
em busca da serenidade, pedindo
clemência aos meus fantasmas
que chafurdam perdidos nas lamas....

(Tania Castelo Branco)

domingo, 12 de julho de 2009

Dois Cavalos...


Na estrada de minha casa há um pasto e dois cavalos vivem lá.

De longe, parecem cavalos como os outros cavalos, mas, quando se olha bem, percebe-se que um deles é cego. Contudo, o dono não se desfez dele e arrumou-lhe um amigo - um cavalo mais jovem.

Isso já é de se admirar.

Se você ficar observando, ouvirá um sino.
Procurando de onde vem o som, você verá que há um pequeno sino no pescoço do cavalo menor. Assim, o cavalo cego sabe onde está seu companheiro e vai até ele.

Ambos passam os dias comendo e no final do dia o cavalo cego segue o companheiro até o estábulo. E você percebe que o cavalo com o sino está sempre olhando se o outro o acompanha e, às vezes, pára para que o outro possa alcançá-lo. E o cavalo cego guia-se pelo som do sino, confiante que o outro o está levando para o caminho certo.

Como o dono desses dois cavalos, Deus não se desfaz de nós só porque não somos perfeitos, ou porque temos problemas ou desafios. Ele cuida de nós e faz com que outras pessoas venham em nosso auxílio quando precisamos.

Algumas vezes somos o cavalo cego guiado pelo som do sino daqueles que Deus coloca em nossas vidas. Outras vezes, somos o cavalo que guia, ajudando outros a encontrar seu caminho.

E assim são os bons amigos. Você não precisa vê-los, mas eles estão lá.

Viva de maneira simples, ame generosamente, cuide com devoção, fale com bondade… E confie, deixando o resto por conta de Deus.


Uma semaninha abençoada a quem por aqui passar!!!